Publicada Quarta-Feira, 11/01/2017

Manter motocicleta sai mais barato que andar de ônibus
O reajuste da passagem de ônibus está pesando no bolso do consumidor e chega a sair mais barato adquirir um meio de transporte próprio.

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Os primeiros dias após a implantação do novo valor da tarifa de ônibus em Teresina foram marcados por revolta entre os usuários do sistema. Desde a última sexta-feira, 6 de janeiro, os passageiros precisam desembolsar R$ 3,30 em cada viagem. O novo valor é considerado abusivo pelos usuários, já que o reajuste de 20% é bem maior do que a inflação medida pelo Índice de Preço ao Consumidor Amplo, que fechou 2016 em 6,18%.

“É um reajuste muito elevado e que prejudica demais os trabalhadores que dependem do transporte público. É uma tremenda falta de respeito porque acabam tirando dinheiro de pais e mães de família para colocar no bolso dos empresários, donos das empresas de ônibus”, avalia o aposentado Francisco de Assis Ribeiro, de 66 anos, que utiliza todos os dias o ônibus como meio de transporte.


Para a auxiliar administrativa Fátima Reis, o reajuste é incompatível com a realidade econômica dos trabalhadores, já que, em 2017, o salário mínimo sofreu um acréscimo de apenas 6,47%, passando de R$ 880 para R$ 937. “O trabalhador brasileiro não ganha o suficiente para pagar um reajuste desse. Quem ganha salário mínimo vai gastar muito mais para poder se deslocar até o trabalho. Muitos vão ter que economizar em outras coisas para poder pagar o ônibus”, avalia.
Para explicar a revolta dos usuários do sistema de transporte coletivo em Teresina, basta fazer um cálculo simples. Com o reajuste, o trabalhador que recebe um salário mínimo e utiliza o ônibus para se deslocar até o trabalho, de segunda à sábado, passa a gastar mensalmente R$ 158,40. O valor é maior do que era gasto pelo mesmo trabalhador até dezembro, R$ 132.

Comparações
Outro dado que chama atenção é o fato de que, com o novo reajuste, o trabalhador teresinense passa a gastar com passagens de ônibus 40% do valor gasto com alimentação, levando em consideração dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que apontam que o preço da cesta básica em Teresina fechou o ano de 2016 em R$ 378,95.

Dependendo da distância, é muito mais viável para o trabalhador teresinense adquirir uma motocicleta para se deslocar até o trabalho. Por exemplo, uma motocicleta de 150 cilindradas percorre, em média, 40 km com um litro de gasolina. Se a distância percorrida pelo trabalhador for de 20 km por dia, o gasto mensal com combustível vai ser de apenas R$ 43,20, levando em conta o preço médio do combustível na Capital, que, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, é de R$ 3,60. Os outros R$ 115 que seriam gastos com passagem de ônibus podem ser empregados no pagamento das prestações do veículo.

Estudantes

Apesar do decreto assinado pelo prefeito de Teresina manter o congelamento da meia passagem em R$ 1,05, os estudantes de Teresina permanecem mobilizados contra o reajuste da tarifa inteira. A principal pauta é a má condição da frota que presta o serviço de transporte para os teresinenses. “É um reajuste que não condiz com a realidade. Os ônibus são sucateados, as paradas de ônibus são desconfortáveis. É um sistema que só beneficia os proprietários das empresas”, avalia Brenda Marques, estudante de História, da Universidade Federal do Piauí.


Além dos usuários, os empregadores, que fornecem vale transporte aos seus funcionários, também devem sentir no bolso o reajuste da tarifa de ônibus da Capital. Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Lojistas do Piauí, Tertulino Passos, os comerciantes devem enfrentar dificuldades para adequar o orçamento ao novo valor da tarifa de transporte.

“O transporte do trabalhador é custeado pela empresa, isso não tem como ser mudado. Esse reajuste de 20% ficou muito cômodo para o município, mas para os empregadores vai causar um impacto muito grande, porque é um reajuste bem acima do índice da inflação do período. Ainda não é possível mensurar o impacto, porque estamos nos primeiros dias, mas com certeza vai ser bem prejudicial. É um reajuste acima até do percentual das negociações coletivas de trabalho”, pontua.

No caso do setor de comércio varejista, existe a possibilidade de os custos com transporte dos trabalhadores serem repassados aos preços finais dos produtos. “É possível que isso aconteça, mas não é possível dizer quando. Esse aumento vai influenciar bastante. A inflação do último ano ficou em torno de 6% e o reajuste do transporte foi de 20%. Para conseguir pagar esse valor, de 12% de diferen- ça, os empregadores podem repassar para os preços dos produtos”, avalia.

Fonte: Portalodia