Publicada Segunda-feira, 04/12/2017

Lula: 'Fome está voltando no Brasil por irresponsabilidade dos golpistas'
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o ex-presidente fala sobre as consequência para o país do golpe, cuja chegada de Michel Temer ao poder foi só o começo

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Ex-presidente Lula se prepara para nova caravana pelo interior do país, agora do Espírito Santo ao Rio de Janeiro

Fome, desemprego e perda de direitos históricos. Esses são alguns exemplos do impacto do golpe na vida dos brasileiros, na avaliação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato. Para reverter esse cenário, Lula afirma que vai convocar um referendo revogatório, caso se candidate e seja eleito em 2018. Sobre as eleições presidenciais, ele dispara: “Eu não precisava ser candidato a presidente. Eu já fui, já fui bem sucedido. Mas eles cutucaram a onça com vara curta e a onça vai brigar“. Na entrevista, Lula volta a denunciar o papel da Rede Globo na perseguição política contra ele, em aliança com o Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal.

O ex-presidente afirma ainda que a Reforma da Previdência “é contra o trabalhador, contra o pobre“. E a respeito da questão agrária, Lula destaca o papel preponderante do agricultor familiar – e não do agronegócio – na produção da maior parte do alimento que chega à mesa dos brasileiros.

Nesta segunda-feira (4), o ex-presidente inicia sua terceira caravana pelo país – já cruzou nove estados do Nordeste e também Minas Gerais. Desta vez, ele percorrerá o Espírito Santo e o Rio de Janeiro de ônibus.

O senhor tirou esta metade do ano para colocar o pé na estrada. Já foi para o Nordeste, com a caravana, para Minas Gerais e agora dia 4/12 segue para o Espírito Santo e Rio de Janeiro. O que essa experiência tem te ensinado sobre o Brasil e os brasileiros de hoje?

Eu descobri na campanha de 1989 que não é possível você governar este país para todos os brasileiros e brasileiras se você não conhecer as entranhas dele. Porque, normalmente, quando você é candidato, você vai de capital em capital, de palanque em palanque, do aeroporto para outro aeroporto.

Você desce de um carro, sobe em um palanque, faz um discurso, nem cumprimenta o povo, entra no carro, volta para o aeroporto… Em 1989, eu descobri, que seu quisesse governar o Brasil, efetivamente para os brasileiros, eu teria que conhecer o Brasil. Por isso que, em 1992, eu comecei a fazer as caravanas.

A primeira que eu fiz, eu refiz a viagem que eu tinha feito em 1952, de Pernambuco a São Paulo. Fiz de ônibus essa viagem. Depois eu viajei a Amazônia, o Sudeste, o Norte, o Sul, viajei o Centro-Oeste.

Foram praticamente 91 mil quilômetros de estrada, de barco, de trem, conversando com mais de 600 comunidades no Brasil, para a gente aprender como vive o quilombola, o sem-terra no acampamento, os índios brasileiros, as catadoras de coco babaçu. Porque uma coisa é você ler uma história em um livro, outra coisa é você estar diante da pessoa, com os seus problemas, sua realidade, te relatando a vida dela.

E por que que eu, depois que governei o Brasil, voltei a fazer essas viagens? É porque grande parte das políticas públicas que eu coloquei em prática quando estive na Presidência da República foram oriundas do aprendizado que eu tive na caravana.

E agora eu voltei para ver duas coisas: como está o Brasil de hoje, quais as políticas públicas que tiveram efetivamente sustentabilidade; e como está a vida do povo hoje.

E ainda tenho que visitar o Sul do país, o Norte do país. Estou pensando em fazer uma viagem pelo Amapá, Roraima, Amazonas, Pará, Acre. Depois eu quero pegar o Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e o Paraná, para completar o Brasil inteiro e ter uma fotografia.

Ou seja, se vai ter a campanha de 2018 e se o PT entender que eu deva ser o candidato, quero ser candidato com a fotografia muito viva e atualizada das aspirações e da esperança do povo brasileiro.

E até agora, essa fotografia tem o quê?

Essa fotografia às vezes me alegra e às vezes me entristece. Ela me alegra porque, em muitos lugares, as pessoas têm a clareza absoluta da evolução da vida delas. Quando você chega numa comunidade agrícola, as pessoas lembram da quantidade de financiamento do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], do Programa Luz para Todos, do PAA [Programa de Aquisição de Alimentos]. As pessoas têm noção de que as coisas melhoraram.

Agora, quando você chega num centro urbano, você começa a perceber que, embora as pessoas lembrem da evolução no salário mínimo, do Bolsa Família, do ProUni [Programa Universidade para Todos], dos institutos federais de educação, elas também começam a se queixar de que a pobreza está voltando.

Ou seja, o desemprego aumentou, a massa salarial tem caído, o brasileiro não tem mais recebido aumento acima da inflação. Ele percebe que as pessoas estão já voltando a pedir esmola nas ruas, tem aumentado o número de pessoas dormindo nas praças públicas.

Então, essa é uma tristeza que eu tenho. Nós tínhamos tirado o Brasil do Mapa da Fome, segundo os dados da ONU (Organizações das Nações Unidas) do começo deste ano. E estamos percebendo que a fome está voltando no Brasil por irresponsabilidade das pessoas que deram o golpe neste país.

Essa é a fotografia que eu tenho agora. Mas ao mesmo tempo, eu tenho também a certeza de que este povo é capaz de dar a volta por cima. Ele não pode perder a esperança, tem que continuar acreditando. Este Brasil é muito grande e pode melhorar a vida das pessoas na hora que elas tiverem um governo que conheça a vida delas e esteja preocupado com as pessoas.

Fonte: Rede Brasil Atual