Nos últimos anos, tenho acompanhado de perto, como advogado
trabalhista consultivo, um cenário que me preocupa profundamente: o crescimento
acelerado das doenças ocupacionais relacionadas à saúde mental, especialmente a
ansiedade. Essa realidade, que antes aparecia pontualmente nas empresas, hoje
se apresenta como uma das principais causas de afastamento do trabalho no
Brasil.
De acordo com dados do Ministério da Previdência,
apenas em 2024, mais de 307 mil trabalhadores foram afastados por
ansiedade e depressão – um número que triplicou em relação a 2015,
quando registramos cerca de 90 mil casos. Se somarmos outras doenças mentais, o
total de afastamentos chegou a impressionantes 440 mil no
último ano.
Por que isso está acontecendo?
O avanço desses números não é fruto de um único fator. A
pandemia de covid-19 atuou como um catalisador, acelerando um problema que já
vinha se formando. A insegurança, o isolamento, a sobrecarga e as mudanças
abruptas na organização do trabalho ampliaram o risco psicossocial em
praticamente todos os setores.
Além disso, o modelo de gestão e a cultura empresarial ainda
enfrentam dificuldades para lidar com a questão. Em muitas organizações,
encontramos:
Paralelamente, também há um aumento na notificação e
no debate público sobre saúde mental, o que leva mais trabalhadores a
procurarem ajuda e formalizarem afastamentos — algo positivo do ponto de vista
da conscientização, mas que também revela um passivo represado.
O custo invisível para empresas e trabalhadores
Para a empresa, o afastamento de um colaborador não é apenas
um desafio operacional. Há custos diretos com substituições, treinamentos e
perda de produtividade, e custos indiretos relacionados ao clima organizacional
e à imagem corporativa.
Para o trabalhador, as consequências podem ser ainda mais
graves: perda de renda, estigmatização, impacto nas relações pessoais e, em
casos mais severos, a saída definitiva do mercado de trabalho.
O papel do compliance trabalhista e das ações preventivas
Uma das áreas que mais tenho reforçado nas orientações aos
meus clientes é a importância de implementar um programa de compliance
trabalhista voltado à saúde mental. Não se trata apenas de cumprir a lei,
mas de criar um ambiente de trabalho saudável e sustentável.
Entre as ações que considero essenciais:
Um problema estrutural que exige mudança cultural
Ainda enfrentamos um preconceito estrutural contra as
doenças mentais, tanto no setor privado quanto no público. Muitos trabalhadores
temem falar sobre seus problemas para não perder o emprego, e muitas empresas
ainda não enxergam a saúde mental como prioridade estratégica.
O caminho para reverter esse quadro passa por informação,
capacitação e comprometimento da alta gestão. Não basta reagir quando o
problema já está instalado: é preciso atuar preventivamente e de forma
contínua.
Conclusão
A ansiedade como doença ocupacional é um risco silencioso,
mas que já deixou de ser invisível. Os números de afastamentos mostram que a
saúde mental no trabalho não é mais um tema “complementar”, e sim um desafio
urgente para todos os gestores.
Como profissional que acompanha empresas no dia a dia,
reforço: investir em prevenção e cuidado é mais barato, humano e sustentável do
que lidar com os impactos do adoecimento. Mais do que evitar passivos
trabalhistas, trata-se de preservar o bem mais valioso da organização — as
pessoas.
A ansiedade como doença ocupacional é um risco silencioso,
mas que já deixou de ser invisível. Os números de afastamentos mostram que a
saúde mental no trabalho não é mais um tema “complementar”, e sim um desafio
urgente para todos os gestores.
Como profissional que acompanha empresas no dia a dia,
reforço: investir em prevenção e cuidado é mais barato, humano e sustentável do
que lidar com os impactos do adoecimento. Mais do que evitar passivos
trabalhistas, trata-se de preservar o bem mais valioso da organização — as
pessoas.