

A “pejotização” — termo usado para descrever a contratação
de pessoas físicas como pessoas jurídicas (PJs) — tornou-se uma prática
recorrente nas empresas brasileiras, especialmente após a Reforma
Trabalhista de 2017. Em tese, o modelo oferece mais flexibilidade às
relações profissionais. No entanto, quando mal utilizado, pode gerar sérios
passivos trabalhistas e fiscais, expondo a empresa a condenações milionárias e
à perda de credibilidade no mercado.
De acordo com especialistas, a pejotização é legítima apenas
quando a relação entre as partes é verdadeiramente autônoma, ou seja, quando
não há subordinação, habitualidade, exclusividade ou pessoalidade — elementos
que caracterizam uma relação de emprego sob a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT). Na prática,
entretanto, muitas empresas utilizam o modelo como forma de reduzir custos e
encargos trabalhistas, sem alterar a natureza real da prestação de serviços.
Riscos trabalhistas e fiscais da pejotização
Quando a Justiça do Trabalho identifica que o contrato PJ é
apenas uma fachada para disfarçar um vínculo
empregatício, a relação é desconsiderada, e o prestador passa a ter
reconhecidos todos os direitos de um empregado formal — férias, 13º
salário, FGTS,
horas extras, aviso-prévio e demais verbas.Além disso, a empresa pode ser
autuada pela Receita Federal e pelo Ministério do Trabalho, que podem exigir o
recolhimento retroativo de contribuições previdenciárias e impostos incidentes
sobre a folha, acrescidos de multas e juros.
Especialistas também alertam que o STF discute
atualmente o alcance e os limites da pejotização, o que deve gerar impacto
direto sobre contratos firmados nos últimos anos. Até que haja um
posicionamento definitivo, as empresas precisam redobrar a atenção para evitar
enquadramentos indevidos e ações judiciais.
O impacto da pejotização na imagem corporativa
Para além do aspecto financeiro, a pejotização irregular
também pode comprometer a reputação e o clima organizacional das
empresas. A percepção de precarização do trabalho e a ausência de garantias
mínimas afetam o engajamento e a confiança dos colaboradores — fatores
essenciais para o desempenho e a retenção de talentos.
Segundo advogados trabalhistas ouvidos pela imprensa, há
casos em que profissionais altamente qualificados têm ajuizado ações contra as
empresas, alegando fraude trabalhista após o término do vínculo. Nessas
situações, a economia inicial obtida com o modelo PJ acaba se transformando em
prejuízo financeiro e reputacional.
Como prevenir riscos e adotar boas práticas
Evitar os riscos da pejotização não significa abandonar a
flexibilidade nas relações de trabalho. O que se exige é conformidade
jurídica.Para isso, recomenda-se que as empresas:
Compliance trabalhista como instrumento de prevenção
O compliance trabalhista tem papel essencial nesse
contexto. Ele permite mapear vulnerabilidades, revisar processos internos e
assegurar que as práticas de contratação estejam alinhadas à legislação e à
ética corporativa.Empresas que adotam programas efetivos de compliance não
apenas reduzem o risco de ações judiciais, mas também fortalecem a cultura
organizacional e demonstram compromisso com a conformidade e o bem-estar de
seus colaboradores.
Conclusão
A pejotização não é, em si, uma prática ilegal — mas pode se
tornar um problema grave quando usada como mecanismo para mascarar relações de
emprego.Num cenário de aumento da fiscalização e de revisões jurisprudenciais
em curso no STF, prevenir é a melhor estratégia. Investir em contratos bem
elaborados, políticas de compliance e cultura de respeito às normas
trabalhistas é o caminho mais seguro para quem deseja crescer com
sustentabilidade e segurança jurídica.
Por Renato Pinheiro Santos: Advogado
especialista em Direito Empresarial do Trabalho e Compliance Trabalhista