Publicada Quarta-Feira, 21/09/2011
Nota
Advogado do caso Fernanda divulga nota e comenta sobre investigações
“Estamos muito felizes com a forma como a imprensa piauiense tem demonstrado interesse na solução do caso e lutado para que o mesmo não caia no esquecimento. Neste sentido, mídia e família estão com um mesmo interesse: repudiar a impunidade”, diz trecho da nota

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O advogado Lucas Villa, contratado pela família de Fernanda Lages para acompanhar o caso da morte misteriosa da estudante, divulgou na terça-feira (20), no site de seu escritório Cordão, Said & Villa – sociedade de advogados, nota esclarecendo posicionamentos seus e da família da vítima diante das especulações em torno do crime.

Dentre os esclarecimentos e informações, Lucas Villa disse que recomendou discrição por parte da família para evitar boatos, elogiou o trabalho da Polícia e da imprensa, mas disse que não está mais se comunicando com jornalistas, que só o fará através de coletivas ao vivo.

Leia na íntegra da nota de esclarecimento do advogado Lucas Villa sobre o caso Fernanda Lages


Resolvi, por meio do site de nosso escritório, prestar alguns esclarecimentos sobre este caso que tanto tem mobilizado a sociedade piauiense. A decisão se deu, principalmente, pela quantidade de rumores e especulações que vêm sendo propagados na imprensa ou mesmo nos círculos sociais, alguns deles envolvendo o nome da família de Fernanda ou o deste advogado. Para que o comentário seja neutro, optei por fazê-lo não através da imprensa, mas no site de nosso escritório, inclusive após contato com Paulo Lages, pai de Fernanda.

Assim, seguem adiante, de uma só vez, todos os comentários que a família de Fernanda Lages e seu advogado têm a fazer sobre o caso neste momento.

As manifestações da família de Fernanda Lages e deste advogado

Desde o início tenho mantido entendimento junto à família de Fernanda no sentido de que sejamos comedidos no que tange a quaisquer manifestações que façamos, seja à imprensa, seja a terceiros. Somos da opinião de que muitas especulações e vazamentos de informações, neste momento, só atrapalham os rumos das investigações. Ademais, minha posição pessoal é a de que, por razões éticas, o advogado não deve contribuir para a espetacularização das causas em que atua, muito pelo contrário, tem o dever de se manter tranquilo, parcimonioso, cuidadoso e discreto.

A relação mais sagrada para o advogado é aquela que ele mantém com seus clientes. Todo passo dado por ele deve ser pensado enquanto algo que pode trazer consequências a seus constituintes. Estas consequências devem ser muito bem sopesadas, de maneira que os movimentos do advogado sejam calculados e oportunos, evitando repercussões negativas para os interesses daqueles que ele representa.

Assim, há muito tomamos, eu e a família de Fernanda, a seguinte decisão: nos manifestarmos apenas conjuntamente e ao vivo, para evitar distorções, edições ou especulações. Mais: manifestarmo-nos somente quando houver um motivo estratégico para tal, quando pretendamos esclarecer algo que seja importante para a família e que possa interferir de forma positiva no que tange aos interesses da mesma, que não são outros senão o de ver descoberto e punido o cruel assassino de Fernanda Lages.

Estamos muito felizes com a forma como a imprensa piauiense tem demonstrado interesse na solução do caso e lutado para que o mesmo não caia no esquecimento. Neste sentido, mídia e família estão com um mesmo interesse: repudiar a impunidade. A imprensa tem um papel indispensável em qualquer Estado Democrático de Direito. A liberdade de expressão e a ampla informação da sociedade são fundamentais para que prospere a democracia e não há dúvidas de que, nos dias atuais, a mídia é um verdadeiro quarto poder, pesando muito no desfecho das grandes questões em nosso país.

Entretanto, embora compreenda o importante papel da imprensa, peço que a mesma compreenda também a minha posição. Tenho evitado contato com a mesma, de modo que não estou atendendo telefonemas ou me comunicando com jornalistas, não por má vontade, antipatia ou empáfia, mas por razões de natureza ética. A última vez que me manifestei, conjuntamente com a família, foi no dia 13 deste mês, em entrevista dada ao vivo em algumas emissoras de televisão juntamente com Paulo Lages, pai de Fernanda. De lá para cá não mantive qualquer comunicação com a imprensa e qualquer jornalista que disser o contrário, infelizmente, estará faltando com a verdade. Tenho me resguardado por motivos óbvios:

1º. O inquérito policial é procedimento sigiloso e o vazamento de informações acerca do mesmo atrapalha as investigações e favorece o assassino, ainda solto, que certamente vem buscando se informar sobre os rumos do trabalho da polícia;

2º. O interesse da família não é espetacularizar o caso, mas vê-lo solucionado. Os interesses deste advogado, consequentemente, são os mesmos de seus clientes;

3º. É eticamente questionável e incompatível com meus valores pessoais a conduta do advogado que, desnecessariamente, polemiza os casos em que atua ou utiliza-se dos mesmos para promoção pessoal junto à mídia ou à sociedade.

Transformar este caso num espetáculo para promoção pessoal, enchendo-o de polêmicas e de especulações, seria a mais simples das tarefas. Tudo que alguns veículos de comunicação interessados exclusivamente em ibope poderiam querer era ver o advogado da família Lages aderir aberta e incisivamente à teoria conspiratória de que a polícia está protegendo pessoas e questionar e criticar a atuação da mesma. Este advogado, entretanto, tem procurado não dar margem a estas especulações. Nesse momento é fundamental para meu trabalho que haja uma relação de confiança mútua e colaboração entre advogado e autoridade policial. Rumores infundados de supostas alegações minhas ou da família questionando a lisura das investigações realizadas na CICO não são verdadeiros e só servem para tensionar a relação entre polícia e advogado, atrapalhando sobremaneira o trabalho que realizamos. É fundamental para este advogado a confiança da polícia para que o mesmo esteja à vontade para contribuir com as investigações, ter acesso ao conteúdo das mesmas e requerer e acompanhar diligências que entenda importantes.

Neste momento, tudo o que a família de Fernanda e, via de conseqüência, seu advogado precisam é de apoio. Aqueles que não puderem ajudar, pedimos que, ao menos, não atrapalhem nosso trabalho e respeitem nosso espaço. A família precisa de tranquilidade para viver o luto e encarar a perda que sofreu. O advogado precisa de tranquilidade para trabalhar em favor de um resultado justo e perfeito para as investigações deste crime bárbaro que comoveu a sociedade piauiense, sem que esteja, todos os dias, preocupado em administrar crises, compatibilizar egos e apagar incêndios que não foram por ele ateados, em sua maioria causados por boatos lançados ao vento, de forma irresponsável, por terceiros.

Sempre que o advogado e a família entenderem ser conveniente e adequada alguma manifestação pública, estes o farão, como o tem feito, dentro dos limites éticos que lhes são impostos. Não precisamos de ninguém conduzindo recados nossos. Se em algum momento algo nas investigações me incomodar, levarei meu incômodo a quem de direito, de forma discreta e sem estardalhaço. Quando o inquérito estiver concluso e houver um resultado, tudo que houver para ser dito o será, a quem quiser ouvir, e o resultado será divulgado, inclusive, esperamos, com o nome do acusado. Este advogado, juntamente com a família de Fernanda Lages, só adotará alguma estratégia mais barulhenta caso realmente sejam necessários seus brados para que ele seja escutado. Até então isto, nem de longe, se fez necessário.
Ninguém está autorizado a falar em meu nome. Meus incômodos serão sempre levados por minha própria pessoa, diretamente a quem os causar.

Os trabalhos realizados na CICO

Tenho tido acesso ao conteúdo formalizado nos autos do Inquérito Policial na CICO. Diligente e respeitável o trabalho realizado pelo Delegado Paulo Nogueira na presidência deste Inquérito Policial, bem como pelo Delegado Armandino Moura e toda a equipe que trabalha na investigação. Da mesma forma o trabalho realizado pelo Delegado Alessandro Barreto e sua equipe no Núcleo de Inteligência. Não procede qualquer informação de que eu tenha afirmado haver detectado falhas técnicas no inquérito policial, até porque o mesmo sequer se encontra concluso.
Os delegados da CICO conhecem todas as angústias da família de Fernanda. Espaço nos está sendo dado, inclusive, para sugerir e requerer diligências que entendamos que possam contribuir aos rumos da investigação. O trabalho realizado dentro daquela comissão não é a fonte de nossas preocupações, muito pelo contrário, transmite-nos segurança.

As perícias e o medo do desconhecido

É natural ao ser humano temer aquilo que desconhece. Assim, como várias perícias não foram ainda concluídas, portanto, não constam dos autos do Inquérito Policial que tramita na CICO, estas, sim, causam-nos receio. Falo, mormente, do laudo cadavérico e do local do crime.
Muitas especulações são feitas sobre estas perícias, às quais, uma vez ainda não definitivamente concluídas, jamais tive acesso. A família, como não poderia ser diferente, preocupa-se com as notícias que lhe chegam. É meu papel, enquanto advogado, também preocupar-me e resguardar-me acerca desses receios.
Não nos anteciparemos especulando possíveis resultados que ainda desconhecemos. Não desconfiamos da lisura ou da capacidade dos profissionais envolvidos na perícia, muito pelo contrário. Somos, entretanto, solidários com os mesmos, pois se diz sobre a situação de precariedade em que seus trabalhos são realizados, por suposta falta de estrutura e aparelhamento da perícia de nosso Estado. Estamos, entretanto, otimistas e crentes, esperando que sejamos brindados com laudos esclarecedores acerca das circunstâncias do crime ocorrido e, quiçá, de sua autoria.

Os suspeitos

Não procede qualquer informação de que a família tenha ventilado, junto a quaisquer autoridades, nomes de suspeitos. Quanto a esta questão, mais uma vez nos resguardamos a manter sigilo e evitar especulações.
Como sempre tenho dito: o conteúdo do inquérito policial é sigiloso e é de interesse da família de Fernanda que este sigilo seja mantido.
O que este advogado pretende é somente que aqueles que possam ser potenciais suspeitos sejam exaustivamente investigados e que “o” culpado, e não “um” culpado, seja encontrado e punido. Acreditamos que isto é o que acontecerá e lutaremos sempre pela elucidação deste crime, doa a quem doer.

A hipótese de suicídio

Esta hipótese não será aceita pela família e, consequentemente, por seu advogado. Pelas mais diversas razões a hipótese é absurda e não convence não só àqueles que conheceram Fernanda Lages, mas a toda a sociedade piauiense. Insistir nessa hipótese seria zombar da dor de uma família e da inteligência do povo do Piauí.

O Ministério Público Estadual

Ficamos felizes com o empenho e clara demonstração de diligência por parte do Ministério Público Estadual no deslinde do caso. Sobremaneira importante a nomeação, em louvável atitude da Procuradora Geral Zélia Saraiva, de comissão composta por três Promotores de Justiça para que atuem na causa. A família deposita fé nos trabalhos do Parquet.

A OAB e o Ministério Público Federal

Também importante o apoio de todas as entidades de respaldo e credibilidade nacional, como a Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério Público Federal. A sociedade e as instituições devem vibrar em uma mesma freqüência, desejando a elucidação deste crime e a punição do assassino de Fernanda Lages.

A imprensa e a população

Importantíssimo, também, o apoio da imprensa e da sociedade civil, que não deixam apagar a chama da Justiça. O desejo de todos os piauienses, que se reflete no empenho da mídia na cobertura do caso, é o de ver este crime solucionado, com a consequente punição do criminoso.

Nosso trabalho

O trabalho deste advogado e do escritório Cordão, Said e Villa será sempre o de fornecer suporte jurídico à família de Fernanda, defendendo seus interesses. Neste momento, nos cabe acompanhar as investigações e o andamento do Inquérito Policial, resguardando os interesses da família e auxiliando como pudermos para a elucidação do crime.
Assim, sejam quais forem as consequências, a sociedade e a família de Fernanda podem ficar tranquilas de que estamos e estaremos sempre empenhados e dando nosso melhor para o esclarecimento dos fatos e punição do assassino de Fernanda Lages. Todas as providências que nos são cabíveis, nesse sentido, vêm sendo tomadas e se, por acaso, em algum momento, se fizer clara a necessidade de enfrentar obstáculos ou bater de frente com quem quer que pretenda obstruir o caminho da verdade, estaremos prontos para o embate. Sem descanso. Sem temor. Com justiça.

Teresina, 18 de setembro de 2011.


Lucas Villa